segunda-feira, 20 de junho de 2016

DIÁRIO revela esquema de estelionato em clubes Jogadores acusam empresários que gerenciam o Icasa de cobrarem dinheiro em troca de vagas no elenco

“Quando chega um jogador do Tiago e do Matheus aqui, a gente brinca e fala: ‘Olha lá, mais um jogador-pedágio’. É uma situação delicada.” Mesmo com receio de sofrer represálias, o atual técnico do Icasa, o português Paulo Morgado, reconhece que o clube cearense é vítima de um esquema de venda de vagas no elenco profissional, conhecido como pedágio.
Dono de uma das 68 vagas na Série D do Campeonato Brasileiro, mas sem recursos para manter a equipe profissional, a diretoria do time de Juazeiro do Norte (CE) passou a gestão do futebol à M9 Sports. Os representantes da empresa, Tiago Santos e Matheus dos Reis — este envolvido no escândalo batizado Máfia das Apostas, revelado em março pelo DIÁRIO —, são acusados de cobrar dinheiro de atletas em troca de lugar nos times gerenciados por eles.
Os jogadores Jefferson Carvalho, de 27 anos, e Gabriel Menoci Salvador, de 20, garantem: pagaram aos empresários para atuar, respectivamente, por Rio Branco-SP e Grêmio Barueri. Ambos os casos aconteceram no ano passado. O DIÁRIO ouviu relatos de outros atletas, segundo os quais o pedágio também foi praticado por Tiago Santos no Mixto-MT. Procurados pela reportagem, eles negam a prática do pedágio.
“Eu e meu pai pagamos R$ 7 mil para eles. O Matheus falou que eu iria para o Barueri jogar a Série D. O meu primeiro salário seria de R$ 7 mil. Eu tinha certeza absoluta de que iria receber. Prometeram mil coisas pra mim e foi tudo mentira”, lamenta-se o atacante Gabriel Menoci, que nunca nem sequer atuou pelo clube da Grande São Paulo — ele chegou a treinar no Icasa, mas foi dispensado depois de contrair uma virose.
“O combinado é assim: você paga e treina um mês para começar a receber o salário, mas, primeiro, precisa adiantar o dinheiro para eles. O Matheus e o Tiago dizem que têm um esquema com o clube e vão fazer o seu contrato como profissional”, acrescenta Gabriel.
Má-fé
Sediado em Juazeiro do Norte, a cidade de Padre Cícero, o clube nordestino passa por grave crise financeira. Com muitas dívidas, os cearenses optaram por terceirizar a gestão do futebol profissional, cedendo-a para a M9 Sports.
Nos últimos meses, mais de quarenta atletas passaram pelo Icasa. Não se sabe ao certo quantos deles pagaram para fazer parte da equipe. 
Arrependido por aceitar o convite da equipe cearense, que o apresentou como comandante em 8 de maio, o técnico Paulo Morgado conta que os jogadores levados por Tiago Santos e Matheus dos Reis não têm condições de serem atletas profissionais de futebol.
“Eu nunca tinha ouvido falar nessa palavra (pedágio). Para mim, isso era coisa de estrada... Mas a única forma de eles (jogadores) estarem aqui (Icasa) foi terem pagado alguma coisa. Não tenho provas, mas a sensação que fica é essa. Dispensei todos, mas alguns continuam aqui. Não quero nem vê-los, tem cara que não sabe chutar uma bola”, explicou o português. “Para você ter uma ideia, eu só trabalho com 16 jogadores. O resto, deixo de lado.”
O auxiliar administrativo Edílson Luiz, que acompanha diariamente os treinamentos do time e é responsável por fazer a ponte entre M9 Sports e diretoria do Icasa, sugere uma investigação policial no clube.
“Nenhum (jogador) tem a mínima qualidade. É uma coisa muito estranha. A gente não pode dizer nem que sim (sobre eles praticarem o pedágio) nem que não, mas que é suspeito, é... Se eu fosse da Polícia Federal ou da Polícia Civil, eu investigava esses caras (Santos e Reis). É a maior ‘putaria’ o que está acontecendo aqui no Icasa, tem de levar todo mundo preso”, desabafou o funcionário do Icasa.

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